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O desenvolvimento da química como ciência, ao longo da história, se deu com a contribuição de muitos cientistas que, com muita curiosidade e persistência, desafiaram os conhecimentos da época. Neste texto, revisitaremos a trajetória de algumas figuras cujas contribuições transformadoras foram frutos de um feliz acidente.
Constantin Fahlberg foi um químico russo-alemão que fazia doutorado na Universidade Johns Hopkins (EUA), ele trabalhava como assistente de pesquisa de Ira Remsen, estudando radicais compostos e produtos de substituição do alcatrão de hulha, um subproduto da queima do carvão. Em 1879, Remsen e Fahlberg estavam tentando produzir novas tintas a partir de derivados de petróleo, quando um recipiente ferveu e o conteúdo transbordou. Após ficar por muitas horas no laboratório, Fehlberg foi jantar tarde e acabou se esquecendo de lavar as mãos, foi nesse momento que a descoberta aconteceu!
O químico partiu um pedaço de pão com as mãos e, ao comer, percebeu que ele estava incrivelmente doce, assim como o guardanapo que ele utilizou para secar o bigode e o copo no qual ele estava bebendo água. Foi aí que ele notou que havia descoberto alguma substância do alcatrão de hulha que era mais doce que o açúcar.
Assim, Falhberg associou a doçura a uma substância química chamada sulfanilamida de ácido benzóico, que é cerca de 300 vezes mais doce do que o açúcar, não é digerido pelo organismo e, portanto, é livre de calorias. Mais tarde deu-lhe o nome de sacarina e ela foi o primeiro adoçante artificial a ser descoberto.
A sacarina foi muito importante durante as guerras mundiais, quando a escassez de açúcar era comum, e começou a ser implementada, posteriormente, em dietas com restrição calórica ou controle de diabetes.
Alexander Fleming foi um médico bacteriologista inglês que retornou da Primeira Guerra com o sonho de encontrar uma maneira de minimizar o sofrimento de pessoas que agonizavam e morriam por conta de feridas infectadas. Em 1928, ele retornou para o St. Mary´s Hospital e passou a estudar as bactérias Staphylococcus aureus, que causam furúnculos, abcessos e dores de garganta. Após muito estudo, Fleming decidiu tirar férias de verão e deixou todas suas placas de Petri no laboratório, sem supervisão alguma.
Quando voltou, o médico percebeu que uma de suas placas estava pontilhada de colônias bacterianas, exceto por uma região onde crescia um mofo, da própria atmosfera, que havia contaminado a placa. A região ao redor desse mofo estava limpa, indicando que o mofo secretava uma substância capaz de inibir o crescimento bacteriano. Esse mofo foi posteriormente identificado como uma cepa rara de Penicillium notatum.
Entretanto, foi durante a Segunda Guerra Mundial que cientistas da Universidade de Oxford, liderados por Howard Florey e Ernst Chain, conseguiram transformar a penicilina – que até então era uma curiosidade de laboratório – em um medicamento viável, capaz de salvar vidas. Enfrentando escassez de recursos, eles improvisaram meios de produção e criaram métodos inovadores para purificar a substância. A penicilina demonstrou eficácia em testes com animais e, pouco depois, começou a ser aplicada em humanos.
O primeiro paciente tratado teve melhora inicial, mas faleceu por falta de estoque. Apesar disso, os bons resultados clínicos impulsionaram o interesse em produzir o antibiótico em larga escala. Com apoio de empresas britânicas, a penicilina logo se tornou essencial no tratamento de infecções durante a guerra, marcando o início da era dos antibióticos.