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Os produtos de limpeza estão presentes diariamente na vida das pessoas, afinal, quem não se sente bem após um dia cansativo, ao chegar em uma casa limpa e confortável? Nos próximos parágrafos, discutiremos um pouco sobre os diferentes tipos de produtos de limpeza, suas diversas aplicações no dia a dia e também sobre suas composições gerais, afinal, trata-se de uma aplicação da química no nosso cotidiano.
Esses produtos têm como função primária a remoção de gorduras das superfícies. As gorduras são moléculas apolares, não interagindo muito bem com a água (polar), enquanto os detergentes/desengordurantes apresentam propriedades tanto apolares quanto polares, possibilitando intermediar as interações com a água e a remoção das gorduras.
Apesar de apresentarem funções similares, a diferença entre ambos pode ser observada em sua composição e intensidade do efeito.
Os detergentes são formados, em geral, por: água; tensoativos (um comumente utilizado é o lauril sulfato de sódio), que são responsáveis por facilitar a interação da água com as gorduras; agentes sequestrantes (EDTA) para remover possíveis íons metálicos interferentes presentes na água; e, por fim, conservantes e fragrâncias também são adicionados ao produto. Os detergentes são mais indicados para aplicações mais leves de remoção de gorduras, como na lavagem de louças ou roupas. Devido ao seu efeito mais brando, não existem riscos associados ao uso diário de detergentes.
Os desengordurantes apresentam uma ação mais agressiva do que os detergentes. Isso se deve à seguinte composição geral: água; tensoativos; reagentes alcalinos (hidróxido de sódio/soda cáustica), responsáveis por quebrar e saponificar as gorduras acumuladas, facilitando, assim, sua remoção; solventes orgânicos (álcoois) para solubilizar óleos e gorduras; inibidores de corrosão, como silicatos; e, por fim, também estão presentes conservantes e aromatizantes no produto. A presença de compostos mais agressivos, como a soda cáustica, explicita um uso mais esporádico desses produtos, uma vez que, mesmo com a presença de agentes inibidores de corrosão, é possível que esses produtos danifiquem as superfícies com aplicações muito frequentes.
São produtos que também têm a função de remover gorduras e sujeiras, porém com um efeito mais adequado para aplicações como higienização corporal e limpeza de roupas e tecidos leves.
A composição dos sabões é mais simples, sendo possível prepará-los em escala domiciliar. De maneira geral, um sabão consiste em gordura saponificada, fragrâncias e corantes. A reação de saponificação, de maneira simplificada, consiste na reação de gorduras (ésteres) com alguma base forte, geralmente soda cáustica (NaOH) para sabões sólidos ou hidróxido de potássio (KOH) para sabões líquidos. Essa reação resulta em um sal orgânico, que é o tensoativo responsável pela interação do sabão com as gorduras e sujeiras, e glicerina, que auxilia na hidratação da pele.
Outro tipo de produto de limpeza muito presente em residências e outros estabelecimentos são os desinfetantes e sanitizantes. A principal característica desses produtos é sua atividade antimicrobiana, atuando na eliminação de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos.
Um desinfetante muito famoso, especialmente após a pandemia do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, é o álcool 70°, formado por uma mistura simples de 70% etanol e 30% água, podendo conter aromatizantes para tornar sua aplicação mais agradável ao olfato. O álcool 70% é muito versátil, podendo ser aplicado em superfícies e para a higienização das mãos.
Há também os desinfetantes à base de água sanitária, ou hipoclorito de sódio, com os quais se deve ter certo cuidado no manuseio. O hipoclorito de sódio é um forte oxidante, incapacitando microrganismos por oxidação de suas membranas e material genético, porém sua ação oxidante pode se estender à superfície sobre a qual foi aplicado, especialmente se for metálica. Muitas vezes, os desinfetantes contêm em sua composição, assim como os detergentes, agentes quelantes (EDTA) para evitar que a presença de íons cálcio e magnésio altere o efeito do produto. Por apresentar uma ação mais forte, eliminando ao menos 99,9% dos microrganismos presentes, desinfetantes são muito utilizados em hospitais e laboratórios.
Os sanitizantes têm a função de controlar os microrganismos a um nível seguro, não necessariamente eliminá-los por completo, sendo muito aplicados, por exemplo, em cozinhas, justamente por terem uma ação mais branda e não deixarem resíduos químicos perigosos em contato com os alimentos. O sanitizante apresenta, muitas vezes, como agente biocida ativo, soluções diluídas de peróxido de hidrogênio, que é um forte oxidante e que se decompõe naturalmente, quando exposto à luz, em oxigênio e água, não deixando resíduos potencialmente danosos na superfície.
O primeiro fator a se considerar quanto a essa prática, presente em alguns lares, é que a ação de cada produto de limpeza ocorre de maneira individual, portanto a mistura pode resultar em perda da eficácia dos produtos. Além disso, principalmente no caso de desinfetantes ou outros produtos contendo hipoclorito de sódio (água sanitária), o risco de a mistura resultar em reações perigosas é alto. A água sanitária, em específico, pode gerar os seguintes compostos:
Considerando as informações discutidas acima, entre outros motivos, chega-se à resposta final de que não se deve misturar produtos de limpeza, principalmente por questões de saúde e segurança. A única exceção é o caso em que o produto explicitamente orienta o usuário a misturá-lo com outro, contendo as devidas instruções e medidas de segurança.
Diretor de Projetos