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Quando pensamos em um laboratório químico, uma imagem clara geralmente vem à mente: bancadas, vidrarias e jalecos brancos, porém esse lugar fundamental para a química nem sempre foi assim. A palavra “laboratório” só foi existir no final do século XVI, quando os alquimistas começaram a usar o termo para descreverem suas oficinas.
Com o tempo, os laboratórios evoluíram significativamente, refletindo as transformações na ciência desde a época dos alquimistas. Nesse post, vamos explorar a transformação dos laboratórios, desde as salas esfumaçadas dos alquimistas até os espaços refinados que conhecemos hoje.
O conceito de “laboratório” é algo muito amplo para ser generalizado. O historiador Peter J. T. Morris propôs uma classificação em quatro tipos principais, classificando-os de acordo com sua finalidade:
A primeira versão de um laboratório, que dominou o cenário desde o século XVI até cerca de 1820, era uma herança direta das oficinas de alquimia. O seu elemento central era o forno, que fornecia calor para as reações, além de aquecer o próprio ambiente. Com o desenvolvimento da química dos gases no século XVIII, a necessidade de recolher e manipular gases introduziu novos equipamentos, como a cuba pneumática, e o laboratório passou a ser dominado por grandes mesas para a montagem de aparatos de vidro.
Mas a verdadeira mudança, que deu origem à imagem que temos hoje de um laboratório, ocorreu em meados do século XIX. A introdução de duas tecnologias cruciais, o gás canalizado e a água corrente. Esses dois elementos tornaram possível o “laboratório clássico”. Com isso, foram criados:
Em poucas décadas, o laboratório transformou-se de uma sala escura centrada no fogo para um espaço de trabalho organizado, funcional e muito mais seguro.
No final do século XX, uma mudança impulsionada por uma necessidade começou a emergir: a saúde e a segurança. Com origem na indústria farmacêutica dos anos 1990, esse design dos laboratórios prioriza a proteção do cientista.
Uma quantidade muito maior de capelas de exaustão foram instaladas, além de ocorrer uma separação rigorosa entre áreas “sujas” (o local onde eram realizados os experimentos) e “limpas” (escritórios e áreas de convivência). Além disso, o uso de equipamentos de segurança individual e coletiva, como luvas, jaleco e óculos de proteção, tornou-se mais comum do que antes.
A institucionalização da química no Brasil teve como marco a chegada da família real em 1808. Pouco depois, foi criado o primeiro laboratório estatal, o Laboratório Químico-Prático do Rio de Janeiro (1812-1819), que não tinha fins de ensino, mas sim objetivos práticos e comerciais. Sua missão era analisar produtos naturais das colônias portuguesas, como o pau-brasil, a aguardente de cana e o ópio, visando o comércio, principalmente com a China. Apesar de sua importância, o laboratório teve vida curta, sendo extinto em 1819, em parte devido a rivalidades políticas.
Com o fim deste laboratório, a pesquisa química encontrou um propósito em outros estabelecimentos, como o Laboratório Químico do Museu Imperial e Nacional (criado em 1824) e, de forma notável, nas farmácias do século XIX. Farmacêuticos como o alemão Theodor Peckolt, considerado o pai da fitoquímica brasileira, e Ezequiel Corrêa dos Santos, o primeiro a isolar um alcalóide no Brasil (a pereirina), transformaram suas farmácias em centros de pesquisa de produtos naturais. Essa fase inicial, focada na aplicação das riquezas naturais do país, foi fundamental para o caminho da ciência química no Brasil.
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